O lado insólito de ir ao ginecologista

Meu anticoncepcional estava no fim. Marquei consulta a um ginecologista, através de uma busca na internet por um médico que tivesse boas referências. Achei um site, o Doctoralia, onde dois médicos estavam no topo de opiniões favoráveis e cotações de estrelinhas.

O primeiro era uma mulher, na verdade. Todos falavam maravilhas dela. Pensei: “É esta.” Fui marcar a consulta. Só tinha para o ano de 2027. Um abraço!

Imagem que mostra um padrão com desenhos de uma cadeira, um abajur e um símbolo do feminino.

Fiquei preocupada. “Será que vai ser difícil achar um que seja bom, disponível para agora?”, pensei. Entrei no perfil do segundo da lista: Dr. Antonio Pereira Pérez. Também muito bem cotado de estrelinhas. Opiniões favoráveis também, claro. E gostei do sobrenome, bem português/galego/brasileiro. Fui marcar a consulta e… ufa! Próximo horário livre: 29 de maio de 2014. Isso foi no início do mês.

E o dia da consulta havia chegado. Fui a pé pois era relativamente perto. Gostei do “passeio”, pois passei por ruas que eu nem imaginava que existiam. Que beleza!

Chegando lá no edifício, perguntei ao porteiro: “¿El Doctor Pereira, por favor?” E ele me indicou o lugar do consultório.

Me apresentei à recepcionista, disse meu nome. Ela conferiu no caderno: “Sí, Adriana Rivas. Fenomenal.” Hahaha! Acho engraçadas as palavras que se usam aqui.

Eu cheguei cinco minutos antes do meu horário, mas ele estava atendendo uma paciente e ainda havia outra esperando na minha frente. Tudo bem. Nada fora do normal.

Quando chegou a minha vez, me dirigi ao consultório e o Dr. Pereira me recebeu com muita simpatia. Contei minha história para ele (referente à parte ginecológica e de anemia, claro; mas garanto que teria sido mais divertido se eu contasse sobre minhas aventuras mundo afora) e ele anotou tudo no computador. Ao perguntar qual era o meu “segundo apellido”, eu disse “de Figueiredo”, pronunciando todas as letras, pois sei que espanhois têm muita dificuldade em escrevê-lo corretamente. Esquecem o “i” ou o colocam no lugar errado. Diante da sua cara de confuso, eu lhe disse que o “de” era uma preposição e depois vinha o Fi, guei, re, do. “Mas tem um ‘i’ em ‘guei’, veja bem! É como em ‘Pereira'”.

Aí ele disse: “Pereira es más fácil.”

Depois disso, chegou a hora do exame. Nossa! Era uma cadeira, ao invés de uma maca. Imagine ter que se sentar na beirada de uma cadeira, com as pernas levantadas e abertas. Sentada! Não deitada. E as pernas levantadas, com o apoio atrás dos joelhos. O Clodovil uma vez falou que a Galisteu parecia uma perereca no brejo, numa foto de um produto dela que ele anunciava no programa. Pois então. Não sei por quê, me lembrei disso na hora. Porém duvido que a foto estampada na embalagem do produto da Galisteu fosse tão cômica.

E então ele começou a se embrenhar. E, pasme, eu ainda tinha que escorregar mais para frente, pois ainda não estava na posição correta. O meu médico ginecologista no Brasil também pede isso, mas convenhamos que deitada é mais fácil atender essa demanda. Bom, fiz o que pude. Disse que doía. Ele perguntou o quê. Respondi: “a perna”.

Essa deve ser uma técnica milenar, afinal. Claro! Enquanto as suas pernas doem por estarem abertas num ângulo obtuso, nada mais incomoda.

Bom, ele abaixou um pouco os apoios de perna e melhorou.

Os espéculos dele eram de acrílico, enquanto os do meu médico no Brasil são de metal, provavelmente aço. Comparações sempre são inevitáveis. A vantagem de ser de acrílico é que não é frio. Realmente foi menos incômodo. Aliás não foi nada incômodo. A-há! Desconfio que o segredo mesmo é ter as pernas doendo. Meu cérebro só focava nas minhas pernas.

E tome colocar o espéculo. De repente, ele se levanta, sai e diz “¡Ana!” Pensei: “Pronto. Ele viu a imagem de Nossa Senhora na minha vagina, como em um dos vídeos do Porta dos Fundos. Agora vai chamar todo mundo para rezar aqui embaixo. Vai ser um tédio.”

Entra a Ana com um abajur de escritório, sabe? Coitada. Ela entrou e deu de cara com minha versão mais recôndita e logo abaixou a cabeça e pediu perdão. Eu ri e disse que tudo bem. Afinal, estamos num consultório de ginecologia, o que se esperava? E ela é a auxiliar, não é? Ou só era a recepcionista? Xiii, coitada. Vai ver que no contrato dela só estava previsto olhar para as caras e para o dinheiro das pacientes, será? Mas ginecologista é engraçado mesmo! Eles acham que a gente está acostumada a ver esse tipo de coisa, igual a eles. Não, meu caro. Só porque somos mulheres? Eu mal sei que cara tem a minha, muito menos a de outra. Realmente, coitada da Ana. Deve estar em choque até agora.

Bom, ele pegou a luminária e apontou para onde você está imaginando. Olhou para mim e disse: “Agora sim.”

Sério. Será que eu fui a primeira a precisar de luz? Sim, porque se fosse algo comum, a luminária já deveria estar ali perto. Não sei o que pensar. Estou muito fechada? Sou muito profunda? Menos mal que não me veio também com uma lupa.

Bom, colocou enfim esse famigerado espéculo de acrílico e retirou as amostras.

Depois veio ele com o aparelhinho comprido cuja ponta tinha uma câmera, de maneira que minhas entranhas apareciam no monitor ao lado. Me explicou as imagens e menos mal que as explicou, pois eu não conseguia detectar nada. Fico pasma com a capacidade de abstração de um médico. De um monte de manchas cinza, eles vêem endométrio, ovários, colo… Eu só o que via era a típica imagem que a gente vê em filmes quando a mulher vai à consulta para ver como está o bebê. Sério, igual. Tinha uma mancha que poderia ser facilmente uma cabeça dessas de feto que o pessoal publica no facebook dizendo que está esperando um filho. Fiquei branca, vendo aquilo. Tensa. Ainda mais que eu tinha engordado nos últimos meses. Menos mal que a palavra “bebê” não foi pronunciada pelo médico em nenhum momento.

Depois disso, o exame de mamas. Pensei que seria igual ao de sempre, sem mistérios. Mas ele avisou: “Esto va a incomodar un poco.” “Aaaaiii!” Ele aperta mesmo, para ver se sai alguma secreção suspeita. Nenhuma secreção, graças a Deus.

E foi isso. Ele me receitou o remédio Loette, que é o que tem dosagem igual ao Level que eu tomo no Brasil. E me falou para diminuir a quantidade da série, desde que eu não volte a ter anemia.

O resultado do preventivo ia demorar cinco dias, segundo me informou a Ana, na saída. Não me deu nenhum recibo e eu fiquei ali na frente dela, com cara de paisagem, esperando algo.

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