Imagem feita a partir de textos.

Faltava ainda meia hora para a partida do trem. Cheguei com antecedência porque prefiro chegar com tempo, fazer um reconhecimento do local, averiguar direito para onde tenho que ir… Sabe como é. Detesto ter que agir sob pressão. Podendo evitar, é o que faço.

Apesar das placas na estação de trem Termini, em Roma, estarem em italiano, não foi difícil encontrar o “binario” que me correspondia. Ou seja, a plataforma onde estaria o trem que eu deveria tomar para ir ao aeroporto e pegar o avião de volta a Barcelona, onde eu morava naquela época, em 2009.

E o trem já estava lá. “Que maravilha!”, pensei. “Vou entrar e espero lá dentro.” Validei a minha passagem e entrei. Tomei assento e ali fiquei, revendo as fotos que havia tirado nos quatro excelentes dias que passei naquela cidade, pelo visor da máquina fotográfica.

Duas fotos, uma ao lado da outra. Na primeira estou eu em uma autofoto, só o rosto, e parte do Coliseo atrás. Na segunda, estou de corpo inteiro e o Coliseo atrás e outros turistas.

Com o Coliseu, em dois dias diferentes!

Vi e revi as fotos, bebi água, fiquei um tempo parada e refletindo olhando pela janela do trem. E as pessoas chegavam e chegavam. Até que deu a hora da partida. Segundo o meu bilhete, às 18h, aquele trem deveria se mexer e ir em direção ao aeroporto. Passaram-se 5 min. Passaram-se 10 min. Passaram-se 20 min. E nada. Nada.

Não preciso dizer que a esta altura já tinha gente agitando algum tipo de pedido de explicação sobre o que estava acontecendo. Mas não havia rigorosamente ninguém para dar alguma satisfação a nós. Nem um aviso sonoro. Nem algum funcionário. Ninguém. Nada. Se não fosse pela quantidade de gente que preenchia os vagões, eu ia achar que aquilo era um trem fantasma.

Passou-se uma hora do horário inicialmente previsto da partida. Novas pessoas chegavam correndo, contentes, ao verem que o trem ainda estava ali. Pobrezinhas. Pessoas inocentes. Provavelmente chegando para o trem das 19h. Crentes-crentes que chegavam no último segundo antes da saída do trem. Do trem das 19h. Mal sabiam que aquilo ali era o das 18h. Quem sabe era o das 17h! Nem sei.

Só sei que, enquanto algumas pessoas entravam, outras saíam e iam correndo para o trem ao lado, pensando que estavam equivocadas ao ficar esperando ali e, quem sabe, o trem “correto” fosse o outro. Ledo engano. Chegavam lá e descobriam que não. Não sei como descobriam, mas chegavam lá e voltavam.

Um casal espanhol perguntou para um senhor, também espanhol, o que estava acontecendo. “Estamos esperando o trem partir. Ao que tudo indica é este. Não recebemos nenhum aviso a respeito. As pessoas entram, saem… se divertem!”, disse, ironizando.

Enquanto isso, um homem italiano, na poltrona do lado contava, pelo celular, que estava esperando há um bom tempo que o trem partisse e, nervoso, ele dizia que estava suando como um cazzo. Pelo menos foi o que o meu italiano de novelas me permitiu decifrar.

Duas fotos, lado a lado. A primeira é de um copo de granizado de melancia (bebida de melancia meio congelada, meio não; tipo uma raspadinha). A segunda foto sou eu em frente a Fontana di Trevi.

Verão quente em Roma de 2009! Vontade de me jogar na Fontana di Trevi.

Já passava de 1h e meia de espera e, de repente, surge, caminhando do lado de fora, um funcionário da estação. Tinha uniforme e, por isso, um bando de pessoas o reconheceu como a salvação e correram obstinadas em direção à pobre criatura. Era uma gritaria só. Eu, que não tinha perguntado nada para ninguém até aquele momento, me levantei e fui até ele, para que ele me esclarecesse alguma coisa, afinal, a julgar pelo uso do uniforme, sua resposta seria oficial e confiável. Esperei as pessoas se dispersarem e, quando ele estava disponível, me aproximei e perguntei: “Por favor, sabe quando este trem vai sair?” E ele me respondeu: “Eu não sei! Eu não seeeeei!!!”, levantando os braços, erguendo a cabeça em direção ao céu, falando alto e com expressão de desespero. Gente, que drama!

Mantive a calma, segurei o riso e perguntei: “Mas é este aqui que vai ao aeroporto, correto? Não é o outro trem, né?” E ele, desesperado: “Sim!!! Siiim! É eeeste!” Agradeci e deixei o coitado em paz.

Eu não sei! Eu não seeei!!! No lo so! No lo soooo!!!

Voltei para o meu assento. Ainda bem que eu tinha planejado a minha ida ao aeroporto também com antecedência. Não me lembro a que horas sairia o voo Roma-Barcelona, mas sei que a situação começava a ficar periclitante. Perigava eu perder o voo. Detesto perder dinheiro mas, fora o trem, não havia outro jeito que não fosse pegar um táxi. Aí já viu, né? É trocar seis por meia dúzia. Pegar um táxi, pagar um dinheirão por ele com o objetivo de não perder o dinheiro já gasto no voo? Não me parecia muito inteligente. Além disso, um professor meu da faculdade de Barcelona, que era romano, havia me recomendado fortemente que eu jamais pegasse um táxi em Roma, sob pena de ser enganada pelo motorista. Então, relaxei e decidi ficar ali dentro, esperando que o bendito trem resolvesse me levar. Coloquei na minha cabeça que, se eu perdesse o avião, eu compraria outra passagem e pronto. E passaria a noite no aeroporto.

Quando foi lá para as 20h30, recebemos sinais de que o trem ia, enfim, dar partida! E assim foi. Olhei o relógio e vi que estava no limite para eu chegar e embarcar. Isso se o trem não parasse no caminho. Eu já estava escaldada, lógico! Mas não me preocupei. Liguei a chavinha “zen”. Era o melhor que se podia fazer.

E, por incrível que pareça, deu tempo! Como eu tinha apenas uma mochilinha, pude entrar diretamente, sem despachar. Sim, levei uma mochila bem pequena. Nem era de viagem e tinha mais jeito de mochila de escola mesmo. Apenas o essencial do essencial. Era verão e eu não precisava de muitas roupas. Casaco, botas, calça comprida, meias… Nada disso. Apenas saias, blusinhas, sutiãs e calcinhas. E a necessaire. Uma das bagagens mais práticas da minha vida. Se é que se pode chamar aquilo de bagagem.

O bom de tudo isso foi que eu mal cheguei ao aeroporto, fui direto para o avião. Sem as famosas esperas no aeroporto, de duas horas de antecedência. Estou de palhaçada, lógico. Ser Pollyanna tem limite. E tudo que eu esperei no trem?! Mas tudo bem. Todo o clima de suspense, a comédia das pessoas que entravam e saíam e o drama do funcionário da estação… Ah, isso não tem preço. Estou de palhaçada de novo.

Duas fotos, lado a lado. A primeira sou eu em uma autofoto, em preto em branco, com parte do Coliseo atrás. A segunda é uma parte do Coliseo e seus visitantes, também em preto e branco.

Naquela época, tirar uma “selfie” não tinha esse nome e muito menos era criticado. Quando se viaja sozinha, é o que há!

4 pensou em “o lado TEATRAL de ROMA

    1. facebook-profile-pictureAdriana Rivas Autor do post

      Hahahaha! A passagem de avião era de companhia low cost. Ou seja, o que eu gastaria com um táxi para não perder o voo seria o mesmo que eu já tinha gastado com o avião (+ou- 50 euros). Então não valia a pena. Era melhor esperar o trem sair e contar com a sorte.

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  1. Maria Cidalia de Figueiredo Rivas

    Adriana, me lembro que naquela ocasião eu recebi um e-mail teu me contando isso do trem parado na Estação. Tb me lembro do lance complicado para se atravessar a rua em Roma. Vc contando foi muito engraçado. Bjs!

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    1. facebook-profile-pictureAdriana Rivas Autor do post

      Atravessar uma rua em Roma requer muita experiência, coragem e criatividade! Teve um senhor que atravessou a rua basicamente com pose de espadachim com a sua bengala, como se estivesse desafiando os carros. Vale dizer que o sinal estava fechado para os automóveis. Bjs!

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