O lado curioso de Paraty

Foto da Praça da Matriz de dia. Muito ensolarado. Vê-se a igreja.

A Igreja de Santa Rita de Cássia estava linda, combinando com o dia colorido e ensolarado.

No último inverno do hemisfério sul, estive passando uns dias em Paraty, Estado do Rio de Janeiro. E muito se engana quem pensa que a palavra “inverno” tem um significado negativo neste contexto de férias e cidade com praia. Paraty estava muito bonita. Além das belas fachadas de arquitetura típica do período colonial do Brasil, o sol brilhava linda e incessantemente. Durante o dia, lógico.

Devido a um contratempo em uma cidade próxima chamada Frade, a chegada, prevista para as 11h da manhã, foi atrasada para as 16h. E aí, já viu, né? Com o sol se pondo mais ou menos às 18h, pouco de dia sobrou nesse primeiro dia. E o local de acolhimento, uma agradável casa em Corisco (ou seria Corisquinho? Coriscão, talvez), ficava um pouquinho longe do Centro Histórico. A fome apertava e, para acabar com essa danada, os restaurantes do centro eram a melhor opção, já que perto da casa alugada não havia onde comer.

Foi por isso que, imediatamente após pegar a chave da casa com os donos e deixar ali as malas, o objetivo era partir para o centro em busca de uma comidinha.

Chegando ao Centro Histórico, um simpático rapaz, guia turístico independente, ofereceu seus serviços. A ideia parecia boa, mas a fome era muita e a prioridade era matá-la quanto antes. Fazer o passeio depois de comer não seria uma boa escolha, pois já estava escurecendo naquele momento e depois, então, já seria noite total.

Foto de uma das ruas do Centro Histórico, com a pavimentação de pedras de tamanhos irregulares. Em primeiro plano se vê uma corrente que impede a passagem e automóveis.

O típico calçamento pé-de-moleque, pouco prático para o uso de bicicletas ou cadeiras de rodas.

Como seus possíveis clientes estavam famintos, o perspicaz guia inventou um combo com um restaurante que ele recomendou. A ideia era fazer o passeio com ele na charrete e, no caminho, parar no restaurante, fazer o pedido e continuar o tour. Assim, enquanto terminávamos a pequena excursão, a comida ia sendo preparada para, no final do trajeto turístico, estar pronta e flamejante para saciar a nossa fome. Trato feito!

Seu nome era Danilo e, acompanhado de seu amigo KinderOvo, contou um pouco da história de Paraty, fazendo um passeio pelas aconchegantes ruelas revestidas pelas sempre presentes pedras irregulares. Aliás, fiquei sabendo agora que esse tipo de calçamento recebe o nome de pé-de-moleque. Faz sentido.

Danilo contou que essas pedras foram trazidas de Portugal como lastro para que os navios que haviam levado as pedras para o Brasil, ao retornarem a Portugal, levassem o mesmo peso em ouro para lá. Li que não há qualquer registro sobre isto, mas que muitos afirmam que é verdade, não só o Danilo.

Outra curiosidade foi saber que muito do que eu pensava ser apenas decoração nas fachadas das casas pelo Centro Histórico, são, na verdade, símbolos que designavam moradias de maçons. Paraty demonstra forte influência maçônica em sua arquitetura, não só nos padrões coloridos que se vêem nas casas, mas também nas suas proporções. Li, por exemplo, que a proporção entre os vãos entre as janelas remete ao conceito do retângulo áureo.

Foto de uma fachada de uma casa onde há a decoração com símbolos maçônicos.

Geometria decorando e identificando casas de maçons.

Danilo disse também que a quantidade de camadas de telhas das casas indicavam a riqueza dos donos dela. Quanto mais camadas, mais rico seria o morador em questão. E contou que uma casa com uma camada só era uma casa com eira. Já as que tinham duas camadas, eram casas com eira e beira. E as que apresentavam três camadas, tinham tribeira. Achei, mais uma vez, interessantíssimo. No entanto, fui em busca de uma confirmação dessa história e encontrei um texto que defende que essa interpretação está equivocada, já que “eira” é, na verdade, um espaço, no chão, na parte externa da casa. A palavra seria, originalmente, “área”. E beira, sim, é uma extensão, digamos, do telhado.

Uma casa colonial que é uma loja de redes. Há várias redes penduradas do lado de fora da casa. Todas coloridas.

Tranquilidade à venda. Delícia!

Uma rua em Paraty onde se vêem casas coloniais com várias camadas de telhas.

Casas com várias camadas de telhas.

Danilo não parava de falar e, ao mesmo tempo em que guiava KinderOvo pelas ruas cheias de pedras e histórias, nos contava mais e mais detalhes que, embora tivessem me deixado com a pulga atrás da orelha naquele momento, foram fundamentais para que eu procurasse saber um pouco mais sobre Paraty.

Fim do passeio, Danilo e KinderOvo, o cavalo, nos deixaram na porta do Restaurante Santa Rita da adorável Maria Luisa. Meu peixinho à banana já estava quase pronto e, quando ele foi colocado na minha frente, acompanhado de arroz e pirão, eu quase chorei de felicidade! Eu estava faminta e aquele era o tipo de comida que eu adoro. Um dos tipos, não é verdade? Deliciei-me e, no final de tudo, fiquei feliz por aquele dia.

Foto do interior do restaurante. Na parede do fundo há uma coleção de relógios antigos. As mesas estão postas, mas não se vê ninguém.

Interior do Restaurante Santa Rita, da adorável Maria Luisa.

Foto do prato peixe à banana.

Peixe à banana delicioso!

 

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