O lado engarrafado do Cairo.

Trânsito na cidade do Cairo.

Embora o Egito seja um país repleto de lugares únicos como os complexos arqueológicos com seus templos, pirâmides e colossos, devo dizer que vi lá muitas coisas semelhantes ao que conheço do Brasil. Na cidade do Cairo, por exemplo.

Depois do cruzeiro, que terminou em Assuã, pegamos um avião com destino ao Cairo, onde se daria a segunda parte da excursão. Chegamos ali às 15h. Agora éramos somente cinco pessoas no grupo: apenas uma família moradora de Madri (pai, mãe, filha e filho adolescentes) e eu.

Ao desembarcar, um novo guia nos recepcionou e nos levou até uma van que nos conduziria aos hotéis, previamente reservados pela agência de Madri. A minha reserva era em um hotel na área das pirâmides. Já a tal família estava em um outro hotel, mais para o centro do Cairo. Até aí, nada de mais.

Foto de uma rua no Cairo, com automóveis bem antigos.

As idas e vindas acabaram fazendo parte do turismo. Automóveis bastante antigos e cartazes de política.

O caso é que nosso novo guia, Abdul, parecia não ter muito tato ao explicar as coisas e simplesmente disse: “Agora vamos primeiro ao hotel de vocês, família, e vocês deixam a bagagem lá. Logo em seguida iremos todos juntos ao hotel da Adriana, levá-la. E diretamente iremos jantar.” O quê?!

Espanhóis costumam jantar bem tarde, se comparamos com os nossos hábitos brasileiros, mas, naquele momento, até eu tinha que concordar. “Mas como? São três horas da tarde! Como vamos jantar?!”

Abdul, então, explicou: “Vocês não sabem como é aqui… Temos muitos engarrafamentos e o percurso pode demorar demais.” Ah…! A família de Madri (o pai era escocês) não tinha ideia de que o trânsito em algum lugar deste mesmo mundo que eles habitam poderia ser tão ruim a ponto de fazer alguns quilômetros serem esticados em muitas, muitas e muuuuuuuitas horas. Que inocentes, não?

Já eu, aceitei o fato com resignação. Não havia o que fazer e eu sabia disso. Quantas horas passei em engarrafamentos no Rio e em Niterói! Eu sabia que era perfeitamente possível o que o guia estava tentando nos dizer. E como sabia! Mas a família hispano-escocesa ainda não conseguia digerir a notícia muito bem, pois nunca tinham vivido aquilo.

Como tínhamos pego o avião direto do passeio de camelo, estávamos cheirando… mmmm…! Nossa! Uma maravilha! Abdul foi benevolente e, ao chegarmos ao hotel onde a família tinha reserva, ele deu o “bônus” de 1 hora para os quatro tomarem banho, se vestirem e descerem. E lá foram eles, correndo e me pedindo desculpas por eu ter que esperá-los. Sim, eu fiquei ali esperando-os, junto com o guia, pois se tentássemos, nesse intervalo, ir ao meu hotel me levar, não se sabia se conseguiríamos chegar a tempo ou não. Perigava passarmos a tarde e um pouco da noite indo e voltando.

Uma hora depois, desceram os quatro, já limpinhos e vestindo roupas recém tiradas das maletas. E me pediram desculpas de novo, como se eles tivessem alguma culpa. Ah! Deixem-me dizer que, nesse meio tempo, enquanto os aguardávamos, Abdul vira para mim com a brilhante ideia: “Acho melhor irmos direto daqui para o restaurante. Aí, depois do jantar, a levamos ao seu hotel.” Hã?????! Meu ovo! Eu estou aqui há uma hora esperando eles tomarem seus banhos e, agora, todos estarão limpinhos e eu serei a única que vai para o restaurante fedendo a camelo e cheia de areia?! Nem pensar.

E assim, nos dirigimos todos ao meu hotel, a fim de que eu pudesse tomar meu merecido banho e trocar minhas roupas, como tinha que ser. Eu hein!

O hotel se chamava Oasis e era excelente. Eu já disse em outra ocasião que eu costumo ficar em hotéis mais modestos, mas este era o do pacote. A organização dele era horizontal, sendo que os quartos ficavam em “casinhas” espalhadas por um bonito jardim com árvores e flores.

Quando saí da van, Adbul disse que eu teria 30 min para me arrumar, pois eu era uma única pessoa, enquanto eles, os da família, eram quatro e tiveram 1 h. Ainda bem que ele não quis levar a Matemática a ferro e fogo, senão, eu teria direito a míseros 15 min! Eu disse a ele: “Ok, mas contando só depois que eu entrar no quarto.”

Foto do hotel que mostra as "casinhas", que eram os quartos.

Assim eram as “casinhas” onde ficavam os quartos, no hotel.

Os recepcionistas, no saguão, muito simpaticamente me pediram o passaporte. Como Abdul estava em cólicas para que tudo ocorresse o mais rápido possível, ele pediu aos senhores do hotel que eu pudesse me dirigir logo ao meu quarto, antes de o recepcionista terminar o que estava fazendo com meu documento e, assim, o meu passaporte ficou com o cara da recepção, que disse que me entregaria depois.

Um amável senhorzinho pegou minha mala e me acompanhou até a minha “casinha”. Quando chegamos à porta do quarto, eu agradeci e ele permaneceu parado, sorrindo. Entendi que esperava uma gorjeta. Tirei do meu bolso uma nota de libra egípcia. Agradeci de novo, ele também, e foi embora. Fechei a porta.

Pronto. Estava armada a confusão. Sem pestanejar, eu comecei a tirar a roupa para entrar no banho o mais rápido possível. Era um tal de camiseta para um lado, bermuda para o outro, sandálias voando. Fui correndo para o banheiro. Mas me lembrei que minhas coisas de banho estavam na mala. E tome voltar para o quarto e abrir a mala com cadeado, descobrir que o protetor solar havia vazado dentro dela, procurar no meio das roupas as coisas de que eu precisava. Ufa.

E eis que alguém bate à porta. Meu Deus! Quem será? Agora a correria era para me vestir de novo! Catar camiseta, catar bermuda! Eu mais parecia uma maluca dando voltas dentro do quarto e procurando as peças de roupa. E, ainda por cima, preocupada com os minutos de banho que eu estava perdendo. Abri a porta.

Era o senhorzinho simpático que havia me ajudado com a maleta. Ele tinha nas mãos o meu passaporte e queria devolvê-lo. E, no rosto, o mesmo sorriso. Que peculiar! Peguei o bendito passaporte e agradeci. Ele, então, foi embora. Fechei a porta. Caramba! Agora será que eu poderia, por fim, tomar meu banho? Dirijo-me ao banheiro, e finalmente tiro a crosta de areia e a catinga de camelo. Ok, estou exagerando. Mas eu realmente tinha passado dos limites do aceitável.

Quando saí do chuveiro, já mais calma, comecei a reparar nos elementos do quarto. Cama, televisão, armário, porta… Eu tinha entrado tão esbaforida que nem havia reparado em nada. Qual não foi a minha surpresa e desespero ao perceber que, ao lado da porta, havia uma imensa janela, fechada sim, mas de vidro fumê e as cortinas escancaradas! Como já era noite e o lado de fora estava escuro, eu não via o exterior do quarto, mas quem estivesse do lado de fora, no jardim, me via perfeitamente lá dentro, pois as luzes estavam acesas.

Fazer os passeios turísticos usando short pelo muçulmano Egito não tinha sido o suficiente para mim, não. Nããão… Eu tinha que ter feito exposição da minha figura correndo contra o relógio dentro de um quarto com uma janela de vidro fumê, claro! Eu sou assim!

Jamais voltarei a esse hotel. Só se eu souber que toda a sua equipe foi renovada. Meu Deus, ou melhor, Allah, não permita que eu arda no mármore do inferno! O corre-corre provocado por um engarrafamento nunca havia me trazido consequências tão graves.

Foto da cidade do Cairo tirada de uma ponte que cruza o rio Nilo.

Cruzando o Nilo em direção ao meu hotel, já com a família de banho tomado e eu catinguenta dentro da van e tirando fotos do percurso.

As três pirâmides de Gizé, há noite.

O restaurante onde fomos jantar tinha esta vista para as pirâmides.

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Detalhe de uma cena cotidiana no Cairo. Duas mulheres trabalham em uma feira de frutas.

2 pensou em “o lado ENGARRAFADO do CAIRO

  1. Maria Cidália de Figueiredo Rivas

    Adriana, ri muito! Só de imaginar o senhorzinho do lado de fora com o teu passaporte na mão, vendo vc correr de um lado para o outro, semi nua, sem saber se tomava banho ou se abria a porta ele, já começo a gargalhar. Bjs!

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