Dia desses fui parar lá em Tui. Pois é, de vez em quando, eu praticamente me teletransporto para outro lugar. E desta vez foi para Tui, uma cidadezinha bem pequena, na região da Galícia, noroeste da Espanha.
O lugar é bem bonito, tendo uma catedral em estilo gótico bastante bem conservada e que oferece ao entorno muita beleza, especialmente ao anoitecer, quando o céu está azul escuro fosforescente e suas texturas estão devidamente valorizadas através de uma iluminação cuidadosa. Tui é bem sossegada mas com uma certa movimentação de gente, já que o Caminho de Santiago passa por ali. Ou melhor, um dos caminhos, pois existem vários.
Chegada a hora de jantar, uma opção interessante acenou para mim, ao rolar a tela do Tripadvisor. Passavam por ali imagens apetitosas de pratos que eu assimilei como lanchinhos mas, nem por isso, menos atrativos. Nas fotos do interior do restaurante, cores contrastantes, predominantemente azuis e amarelos em um ambiente com mobiliário simples e aconchegante. Tudo muito lúdico e criativo.
O nome? Ideas Peregrinas. Ficou memorizado.
Lá pelas tantas, no meio do passeio a pé pelo centro histórico, umas janelas em uma parede de pedra, bem rústica, me chamam atenção. Olho para dentro e gosto do que vejo. E me dou conta de que trata-se do Ideas Peregrinas!
Esse misto de bar/restaurante e lojinha estava cheio. Segundo uma das garçonetes, ia acontecer ali uma degustação de novos patês e vermute. Por isso, só havia espaço para jantar no balcão mesmo. O recinto não é muito grande e, além disso, uma parte é destinada a ser espaço de exposição de produtos relacionados ao mundo dos peregrinos, que são as pessoas que fazem o famoso Caminho de Santiago. Casacos de frio, capas de chuva, lanternas, mapas e outros apetrechos servem tanto de decoração como fonte de renda extra para o restaurante. Comidinhas gostosas e irreverentes em lata também figuram na lojinha.
Minha cor preferida é verde. E deve ter sido por isso que muito me interessou o suco de nome Detox, feito com espinafre, aipo, maçã e gengibre. E não torçam o nariz para essa combinação, pois estava delicioso e bem docinho!
Para comer, pedi uma salada de abóbora, rúcula, queijo e passas, também muito saborosa. E, como prato principal, “alubias con mejillones y wakame“. Nunca pensei em combinar feijão com mexilhão além de numa rima. Estava bem gostoso e a alga wakame dava o toque oriental e globalizante ao prato.
E, se estava havendo uma degustação de patês, por que não pedir um? Escolhi o de “centollo“, que é um crustáceo parente do caranguejo, mas enorme. Acho que posso definir assim. No entanto, estava em falta. Foi quando a garçonete sugeriu um outro patê, em substituição a esse. “Por que vocês não provam o de chinchila?”, perguntou. Ao que eu respondi com um imenso ponto de interrogação no meio da cara, seguido de outro de exclamação. Eu não conseguia proferir uma palavra sequer depois de ter ouvido juntas as palavras “patê” e “chinchila”.
Ora, a chinchila que eu conheço é um bichinho similar a um coelho, tendo as orelhas menores e o rabo maior que este. O seu pêlo é cinza e muito bonito. E, aliás, até onde eu sei, bastante cobiçado pela indústria da moda. Durante esse 1 segundo depois da oferta da garçonete, muitas elocubrações passaram pela minha cabeça. Nãããão…! Não pode ser! Chinchila é uma animal extremante fofinho!
É, pessoal, quando o patê era de um tipo de crustáceo, estava tudo ótimo para mim. Mas se vem me dizer que é de chinchila, ficou automaticamente indigesto. Discriminação e hipocrisia, eu sei. Foi quando ela explicou, com muita naturalidade, que chinchilas eram FORMIGAS bem pequenininhas. E que esse patê todo mundo que provava gostava. Aaaaah, ok! Agora sim. Formigas não são tão fofas. Traga logo esse patê.
Enquanto a famigerada iguaria não vinha e a curiosidade e o desespero já tomavam conta de mim, o Google era o único que poderia me salvar. E tome a procurar a palavra “chinchilla“! Ocorre que, para minha surpresa (ou não), os resultados eram apenas de chinchilas mesmo. Visualizem a tela do celular cheinha de bichinhos fofos e cinza. Era assim que estava. Socorro!
Quando finalmente o patê foi servido, tcham tcham tcham tchaaaam! Enigma solucionado. Ali estava, em letras garrafais, impresso na lata: “quisquillas” e não, “chinchillas“! E, podem fazer a consulta ao seu buscador preferido. “Quisquillas” são um tipo de camarões.
Ufa! Muitas almas saíram do purgatório com essa notícia. O chato foi que eu fiquei sem provar o suposto patê de formigas.
* Site do Ideas Peregrinas (é uma fofurinha!)
Acho que a garçonete pensava que os bichinhos parecidos com camarões eram mesmo formigas. Se é que existe algum patê feito com formigas, eu vou logo avisando que eu não quero nem provar.????????????
Gente, foi bem engraçado! Eu gostei dessa garçonete. Muito simpática! Deu um ar de comédia de situação à experiência. :)