O lado movimentado de Abu Simbel.

Foto do Templo de Ramsés.

Depois de horas de viagem pelo deserto, a recompensa!

Como contei em outra ocasião, os passeios diários pelo Egito, durante o cruzeiro pelo Nilo, costumavam começar pelas manhãs, bem cedinho. Logo no primeiro dia, toma! Acordar às 5h. Mas houve uma vez em que todos os meus conceitos de “manhã” e “dormir” tiveram que ser revistos. “Mañana vamos a salir a las 3h. Os pongo la alarma para las 2h50, ¿qué tal?”, disse Áli, o guia. Ou seja, 10 minutinhos para se levantar, se arrumar e descer. Ou acordar ainda mais cedo, por conta própria, e organizar o tempo como quisesse, desde que— atenção! —, todos estivessem a postos na saída do navio indubitavelmente às 3h da manhã. Bem… Da madrugada, né?

O extremo rigor tinha um porquê. Não se tratava agora de pensar que éramos um pequeno grupinho de nove pessoas, mas sim toda uma caravana de turistas que partiria a Abu Simbel com escolta da polícia durante todo o percurso. Ou seja, nada de atrasos. Ou perderíamos a escolta. Quer dizer, nem iríamos. Tais medidas se devem ao fato de que a região é instável em termos de segurança, dada a proximidade com o Sudão.

Então deixamos o navio em Assuã e, de ônibus de turismo, às 3h exatamente, nos dirigimos ao ponto de encontro com os demais ônibus de grupos de gente sem muita noção como eu. Dali, partimos todos, às 4h, com a escolta, fazendo uma viagem de três horas de duração pelo deserto.

Às 7h daquela adorável manhã, chegamos ao nosso destino. Confesso minha ignorância com relação ao tema. Não conhecia muito sobre o que iríamos ver ali. Também admito que, nesse caso, a ignorância foi uma bênção, além de ter me proporcionado uma emoção incrível quando, depois de descer do ônibus e de caminhar alguns metros, virei à esquerda e, de supetão, me deslumbrei com o imponente templo que ali estava!

Foto minha com o templo de Ramsés.

Templo de Ramsés. O ruim de ter que pedir para alguém tirar a foto é que os meus pés e o topo da rocha podem ser cortados. Se eu tivesse um pau de selfie de alguns metros de comprimento, nada disso teria acontecido. Ou se eu tivesse a sorte de ter encontrado um turista japonês por ali. Japoneses nunca decepcionam ao tirar fotos.

Houve quem comentasse: “Viajamos tanto, acordamos tão cedo, para ver MAIS UM templo?” Mas não foi o meu caso. Eu estava simplesmente extasiada e agradecendo internamente por estar ali e por, apesar dos conflitos na região, ter sido permitido a mim ir até lá. Se tem coisa que me entristece é pensar que maravilhas do mundo às vezes estão impedidas de serem visitadas e conhecidas por conta de estarem em áreas de conflito crônico, latente ou mesmo pontual.

A fachada do templo era impressionante. Dar de cara com aqueles 33 metros de altura decorados com quatro estátuas gigantes de Ramsés II esculpidas em pura rocha de arenito realmente me impactou muito. Parecia que eu estava em outro mundo ou mesmo em um set de filmagens de Hollywood.

Abu Simbel é, afinal, um complexo arqueológico formado por dois templos: o Templo de Ramsés e o Templo de Nerfetari, sua esposa preferida. Os dois estão escavados na rocha e foram construídos a mando do faraó Ramsés II no séc. XIII a.C., tendo as obras sido iniciadas aproximadamente em 1284 a.C. Foi concluído algo como vinte anos depois!

O Lago Nasser, o Templo de Nefertari e o Templo de Ramsés.

O Lago Nasser, o Templo de Ramsés e o Templo de Nefertari.

Enquanto o guia fazia a sua explanação, eu me surpreendia mais e mais com aquele lugar e com as suas histórias. Com a sua História!

O quê?! Os templos estavam perdidos no deserto e totalmente cobertos de areia??!! Hã??? O lugar onde eles foram construídos NÃO É o lugar para onde eu estou olhando agora?! Mas eles estão ali! O que você está me dizendo?! Minha cabeça explodiu!!

Sim! Os dois templos tomaram um chá de sumiço no passado devido à ação do tempo que os cobriu com infinitos grãos de areia. Somente em 1813, o suíço Jean-Louis Burckhardt descobriu o topo do templo de Ramsés, emergindo da areia. Este senhor, então, falou da sua descoberta ao explorador italiano Giovanni Belzoni, que resgatou das areias do deserto essa maravilha que hoje é patrimônio mundial da UNESCO.

Mas não acaba por aí.

No final da década de 50, foi decidido que iria ser construída uma represa no Rio Nilo com o objetivo de pôr fim aos problemas de estiagem e inundações que acometiam a população local. Outro benefício seria prover de energia elétrica o país. Desequilíbrio ecológico e submersão de aldeias e grandes tesouros arquitetônicos do Mundo Antigo: alguns dos pontos negativos daquela empreitada.

Foto do Templo de Nefertari.

Templo de Nefertari, com seis estátuas de 10 m de altura cada uma. Da esquerda para a direita: Ramsés II, Nefertari, Ramsés II, Ramsés II, Nerfertari e Ramsés II. Da direita para a esquerda: idem.

Sobre o desequilíbrio ecológico e a inundação das aldeias, não sei o que foi feito. Sobre os tesouros da Antiguidade que corriam risco de serem escondidos pela água, foram salvos devido a uma campanha internacional de doações promovida pela UNESCO, solicitada pelas autoridades do Egito e do Sudão.

E assim foi uma corrida de pesquisa arqueológica nos locais que iriam desaparecer. Era o caso dos templos de Abu Simbel, que foram separados em blocos de até 30 toneladas. Cada singelo bloquinho foi trasladado a um local mais elevado, onde puderam ser novamente reunidos e, como num quebra-cabeça 3D gigante, voltarem a ser os templos de Ramsés e Nefertari, agora já bem seguros do perigo da submersão.

A água acumulada devido à construção da represa deu origem a um lago artificial chamado de Lago Nasser, em homenagem ao seu idealizador.

Foto do Lago Nasser.

Um lago na paisagem desértica. Lago Nasser.

6 pensou em “o lado MOVIMENTADO de ABU SIMBEL

  1. Maria Cidália de Figueiredo Rivas

    Que história linda e fascinante! E como sempre tão bem contada por você. Me lembro que fiquei muito aflita(por causa dos conflitos) quando soube que você iria para o Egito, mas agora fico feliz por você ter tido a oportunidade de conhecer coisas tão maravilhosas.

    Responder
  2. Paula

    Incrível, estou maravilhada!! É muito sensacional e, sinceramente, tiro o meu chapéu pra você poque eu não teria essa coragem de viajar sozinha pelo Egito. Mas não mesmo!!!
    Bjs

    Responder
    1. facebook-profile-pictureAdriana Rivas Autor do post

      Oi, Verônica! Pois é. É devido aos conflitos na fronteira com o Sudão. Somente nesse passeio tivemos escolta. Nos demais passeios pelo Egito, não. Isso foi em 2014. Obrigada pelo comentário!

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *