Eu pensava que já havia visto Gibraltar pela televisão, há muitos anos, em um documentário. Mas eu estava enganada. O documentário em questão era sobre o macaco-de-Gibraltar, espécie de macaco que se encontra sim em dito lugar, mas que não ocorre somente lá. A ideia que eu fazia dali era, então, a de um povoado/cidade com esses macacos andando por todo lado, entre as pessoas. Mas, não. Esse lugar do documentário não era Gibraltar. Era outro. Talvez o norte da África ou alguma parte da Ásia, não sei.
Bom, falemos então de Gibraltar, que foi o lugar que eu conheci esta quinta-feira que passou. (Post escrito em 15 de abril de 2015.) Diferentemente do que eu imaginava, não está cheia de macacos andando pelas ruas. Mas nem por isso é menos interessante. E onde está esse lugar afinal? Bom, visualizem a Espanha. Agora visualizem o sul da Espanha. Lá embaixo, há uma micropenínsula, um rabinho de terra que nem dá para ser representado nos mapas normalmente, dada sua enorme pequenez. Pois bem. Essa é a Península de Gibraltar, onde se situa – pasmem – Gibraltar.
A área do seu território é minúscula (6,8 km², segundo a Wikipedia) e ainda por cima, desses míseros quilômetros quadrados, boa parte é um rochedo, o famoso Peñón que meu pai vivia dizendo que os ingleses roubaram da Espanha. Entendo a indignação, já que a Espanha nunca roubou nada de ninguém, não é verdade? Estou sendo irônica.
Ou seja, Gibraltar é um território britânico praticamente dentro da Espanha. Ali o idioma oficial é o Inglês, a moeda é a libra esterlina e, para entrar, deve-se apresentar o passaporte. Eu fiquei pensando “Gente! O lugar é tão pequeno! As pessoas daqui nascem aqui mesmo? Tem hospital? É muito pequeno este lugar!” Mas, sim, tem hospital. E tem aeroporto também, com abundância de voos com destino a Londres.
Aliás, o aeroporto é uma atração à parte. Já disse que o lugar é minúsculo. Imaginem um aeroporto ali. Podem acreditar no impossível, pois sim, ele funciona. A pista de decolagem e pouso cruza a principal avenida local e se extende ao mar, em uma plataforma. Para entrar e sair de Gibraltar, a pé ou de automóvel, essa avenida é o único caminho. Imaginem cruzar uma pista de pouso a pé. Eu fiz isso. Nossa, como ventava!
Quem algum dia for visitar essa Great Britain Zone na Espanha não deve ficar preocupado com algum possível avião que passe pela sua cabeça quando você estiver cruzando a pista para entrar. Sempre que uma decolagem ou um pouso está prestes a acontecer, um sinal sonoro é ativado e os semáforos ficam em vermelho, impedido a passagem de pedestres e carros. Durante uns bons minutos, forma-se um curioso engarrafamento. E não adianta buzinar. (Aliás, nunca adianta buzinar, em nenhum lugar do mundo.)
Foi uma pena que o tempo estivesse ruim, ou seja, nublado e algumas vezes chuvoso. Já vi fotos de Gibraltar em dias ensolarados e é muito bonito, além de ser possível ver a África praticamente roçando o seu nariz. Com a neblina, foi inviável.
Conheci apenas o centro da cidade (ou do país?) e passei um tempinho por ali, passeando e fotografando. Foi bem diferente não estar na Inglaterra e, mesmo assim, ver elementos de referência britânica por lá. Caixa de correio, lixeira, cabine telefônica, a cara daquela senhora estampada nas notas de dinheiro. Tudo so british. Menos a natureza local. Por incrível que pareça, o famoso rochedo plantado no meio da cidade, com uma vegetação tão verdinha, me lembrou o bairro de Copacabana.
O povo gibraltino tem influência espanhola e britânica, mas também há pessoas de outras origens como indiana, judaica e marroquina. A população não chega a ter 30 mil habitantes e, segundo fiquei sabendo por lá, não há desemprego. Até sobra trabalho, de maneira que, todos os dias, milhares e milhares de espanhóis cruzam a fronteira para trabalhar em Gibraltar. Tampouco há criminalidade. Também, com aquele tamanhico, deve ser facílimo garantir a segurança.
Oficialmente, a península foi cedida pela Espanha à Grã-Bretanha em 1713, pelo Tratado de Utrecht. Mas até hoje a Espanha reclama querer esse território de volta. Nos dois referendos que aconteceram até agora, a grande maioria dos gilbratinos rejeitou qualquer tipo de incorporação à Espanha. E quando digo grande maioria, estou falando de algo como 99% da população. Soube que eles pensam até em propor a revisão de seu relacionamento com os britânicos, levando-se em conta o seu autogoverno.
Mudando de assunto, vamos falar dos macacos que, embora não tenham como habitat o meio da cidade, têm bastante intimidade com os humanos turistas que pagam para subir o rochedo. Ainda no lado espanhol, pode-se comprar bilhetes para o teleférico. Também pode-se ir de táxi, mas os taxistas cobram caríssimo. Eu fui de carro, com um conhecido que mora e trabalha lá. Por isso mesmo, a visita foi bem rapidinha, pois ele estava em horário de trabalho. Mas valeu!
No início da subida, pude ver casas residenciais que pareciam bastante grandes. Conforme fomos subindo, havia cada vez menos casas. Até que começaram a aparecer os primeiros macacos. Umas graças! Sem pudor algum, saltavam em cima dos carros e até cheguei a ver um deles tranquilamente agarrado à cabeça de um turista, que também parecia bastante calmo com aquela situação.
É recomendável ter cuidado com os macacos. Comem insetos, vermes, frutos e raízes mas, se sentirem necessidade de defesa, podem usar seus dentes afiados. Imagino os macacos recebendo recomendações similares de seu sábio: “Os humanos que sobem o rochedo são inofensivos. Alimentam-se de batatas fritas, chocolates e amendoins, mas, de forma alguma aceitem essas porcarias cheias de açúcar, sal e gordura. Eles só querem nos ver e tirar fotos conosco. Mas se algum deles se engraçar para cima de vocês, não hesitem em se defender. E tenho dito!”
Pude parar em alguns pontos turísticos do rochedo, como a placa que indica onde a Rainha Elizabeth II esteve parada olhando o mar (sério, isso é mesmo importante?) e um pedestal com bandeiras significativas. Mas há muito mais a ser visto. Vi que existem cavernas no Peñón e soube que estão sendo preparadas para serem museus. Além da Cova de São Miguel, que é um conjunto de cavernas formadas pela ação da chuva e que recebe muitos visitantes. Adorarei visitar, em uma outra possível ocasião, essas grutas com estalactites e estalagmites.
Gibraltar me pareceu, no final das contas, uma Inglaterra de veraneio. Quase tropical. Um lugar cheio de peculiaridades e que, apesar de pequeno, pode ter muito a oferecer. Espero poder voltar (que novidade!) e ter mais histórias gibraltinas para contar.
Que lugar interessante! Acho que gostaria de morar lá. Se há emprego para todos é sinal que todos tem como viver tranquilos. E se não há criminalidade então, que mais posso querer.
Beijinhos!
Sim. E agora que você ficou sabendo que os famosos macacos são umas gracinhas e vivem no rochedo, ficou melhor para você, né? Beijinhos!
ola meu nome é rosana gostaria de saber com vc o valor dos alugueis em gibraltar eu e meu marido estamos querendo morar lá ,por favor me informa
Olá, Rosana! Desculpe não ter respondido antes. Eu estive em Gibraltar apenas a passeio, então, não sei te informar sobre isso. Muito obrigada pela visita ao blog!
Mais um delicioso texto, sempre com a sua visão pitoresca dos lugares…
Também tive oportunidade de visitar há uns anos e retive na memória precisamente duas particularidades de que fala: o aeroporto e os macacos.
Lembro-me que fomos de carro e tive de parar num “stop”. Para meu espanto, em vez de trânsito rodoviário passou-me à frente um avião… Insólito!
Quanto aos macacos, são de facto uma atração turística e uns descarados. Se não nos precavemos ainda somos roubados (como aconteceu a uma senhora a quem “confiscaram” uma mala…).
Ah, também me impressionou o longo túnel que foi construído debaixo do rochedo.
Bjs
Muito obrigada, José Artur! Meu Deus! Levaram a mala de uma senhora?! Por essa eu não esperava. Pensava que só roubavam comida.
Esse aeroporto costuma figurar nessas listas de “coisas estranhas no mundo”. É bem curioso mesmo.
Agradeço a visita ao blog. Volte sempre! Beijinhos!
Ah! E o túnel eu não pude conhecer, mas tenho vontade de um dia voltar lá. :)