O lado caixinha de surpresas de um cara.

No centro histórico de Santarém, em Portugal.

Chegamos ao ponto de encontro. A esplanada da Pastelaria Bijou, no centro histórico de Santarém, era o local. Faltavam, ainda, 10 minutos para a hora marcada. No dia anterior, tínhamos chegado atrasadas, pois nos havíamos perdido pelo caminho, vejam só! De modo que, desta vez, queríamos impressionar pela pontualidade.

Minha mãe perguntou a um dos garçons se podíamos ocupar uma das mesas que estavam no calçadão. Apesar do calor que fazia, como estávamos acompanhadas de Lupe, a cachorrinha, a esplanada era a opção viável. Esplanada é como os portugueses chamam o conjunto de mesinhas que ficam na calçada de algum restaurante ou cafeteria.

Muito bem, ele disse que sim e nos sentamos. Reparamos, então, que havia um senhor de pé, encostado na fachada de uma das casas da rua. Ele vestia uma camisa vermelha com algo escrito e segurava alguma coisa. Falava bem baixinho e quase ininterruptamente. Achei que fosse algum vendedor de loterias beneficentes, tipo da Cruz Vermelha ou coisa parecida. Ele estava parado naquele ponto e ali ficou.

Minutos depois, um rapaz de aparência jovem se aproximou de nós e, bastante objetivo, nos pediu dinheiro. Ele contou que era estrangeiro e que fazia parte de uma família com muitos irmãos mais novos. Não disse de onde eram. Minha mãe e eu nos entreolhamos e, ao mesmo tempo em que não abríamos a carteira, também não dizíamos que não. De modo que o rapaz permanecia parado, diante de nós. Foi então que, de forma inesperada, o senhor de camisa vermelha levantou o tom e, mesmo imóvel, disse: “Ó, rapaz, aqui não! Aqui estou eu!”

O garoto se virou admirado e, esboçando uma expressão de revolta, tornou a olhar para nós, esperançoso. O tal senhor, então, não deixou barato e repetiu: “Aqui estou eu! Tu és estrangeiro? Pois eu sou português!”, reivindicando, nada mais nada menos, que o posto de pedinte!

Depois dessa intervenção, quem daria dinheiro ao garoto? Perigava levarmos um cascudo do enfurecido homem.

O rapazinho, a contra-gosto, deixou o local. E o senhor continuou, impávido, no seu posto. Agora já sabíamos que aquela área era dele. Pelo menos num raio de cinco metros. E ai de quem manifestasse intenções de penetrar aquele espaço. Concorrência não era bem-vinda ali. Ah, não era não!

O senhor continuou a sua atividade, enquanto resmungava. “Isto hoje está uma porcaria. Não dão nada.” “Ora vejam, ele é estrangeiro. E eu sou português!” “Grrrrr…”

Avistando um grupo de turistas que vinha se aproximando, bradou algo como: “Mais turistas! Bffff… Não dão nada!” O curioso é que, enquanto balbuciava mal-humorado, continuava parado no seu canto. Não sei se ele queria que minha mãe e eu escutássemos as suas reclamações ou se era do temperamento dele falar consigo mesmo na rua.

Quando o grupo de turistas chegou perto o suficiente para que se escutassem as suas vozes, a conversa deles denunciou que eram ingleses. Rapidamente o chip do globalizado senhor mudou e ele passou de falar português cheio de mau-humor a falar inglês de forma monótona e tranquila: “Hello… Good morning… Please…”

Mas, olha, mesmo com essas personal skills, não conseguiu comover os súditos de Elizabeth. O dia, para ele, estava uma porcaria mesmo.

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