O lado fascinante do Templo de Karnak.

O Templo de Karnak foi um dos primeiros templos que visitei no Egito, na viagem que fiz a esse país em 2014. É bem capaz de ter sido o primeiro mesmo. Se não foi ele, foi o Templo de Lúxor. Os dois ficam na cidade que dá nome a este último, ou seja, a cidade de Lúxor! E era ali onde o navio do cruzeiro pelo Nilo estava atracado.

Imaginem que emoção. Estar dentro de um templo do Antigo Egito! Isso, para mim, é quase o mesmo que visitar outro planeta. Porque o Egito, atualmente, já é bem diferente do que estou acostumada a ver e vivenciar. Há algumas semelhanças, claro, com lugares do Brasil. A existência de engarrafamentos monstro é uma delas. Mas, no geral, é bem diferente. E eu acho isso maravilhoso!

E o que dizer de estar em um resquício do Mundo Antigo, que começou a ser construído há mais de 4 mil anos? É como voltar no tempo, bisbilhotar uma realidade completamente alheia.

Uma sala hipóstila, ou seja, sustentada por muitas colunas.

Devido à instável situação política e de segurança no país, o turismo vem sofrendo uma queda notável. O que é terrível economicamente, já que uma parte importante da receita do Egito provém dessa fonte. A única coisa boa dessa situação foi poder desfrutar dos sítios arqueológicos quase que de modo exclusivo. Apenas uns gatos malucos e pingados visitavam o país. Ótimo para tirar fotos. Mas péssimo para os egípcios, o que me deixou e deixa triste.

Os templos, no Antigo Egito, não eram lugares para oração, ao contrário do que se possa pensar. Eram locais que representavam a morada do deus específico da região. No caso de Karnak, na antiga Tebas, originalmente foi idealizado e erguido para pertencer ao deus Amón. Acho que nem representava a casa de Amón, não. Era verdadeiramente a casa dele.

Com o passar do tempo, no entanto, deu-se uma associação entre Amón e Rá, o deus Sol. Ah, esqueci de dizer que Amón era o deus Carneiro e é por isso que lá no sítio arqueológico, existe uma avenida cheia de esfinges com cabeças de carneiro.

O caminho processional e suas esfinges com cabeça de carneiro.

Era uma característica da religião agrupar os deuses em tríades, sendo os integrantes normalmente o deus, a sua esposa e o filho deles. No caso do Templo de Karnak, a tríade era composta por Amón, sua esposa Mut e o filho Khonsu. Essa avenida que eu citei, cheia de esfinges com cabeças de carneiros, é conhecida como caminho processional e, nos dias festivos, naquela época longínqua, a tríade, ou seja, estátuas da família sagrada, saía do Templo de Karnak, transportada nas chamadas barcas, que eram levadas sobre os ombros de sacerdotes. Passavam pelo caminho processional e iam até o Templo de Lúxor. Haja coluna cervical!

Falando em coluna cervical, o que mais tem nos templos egípcios são colunas de edificação. Enormes, cheias de hieróglifos e muito representativas desse tipo de lugar. Uma coisa que ficou bem marcada na minha memória foi o que o guia contou sobre o código formal que elas têm. Como bem me ensinou meu avô quando eu era pequena, a coluna possui três partes principais: base, fuste e capitel. Vocês estão perguntando por que meu avô me ensinou isso? Não sei. Só sei que foi assim. Todo conhecimento é bem-vindo, afinal.

Mas, voltando à coluna e suas partes, no Templo de Karnak, como em outros templos egípcios, os capitéis, ou seja, a parte do topo da coluna, têm forma de flor, de flor de papiro. E o curioso é que existem dois tipos de capitéis: em forma de flor aberta e em forma de flor fechada. Agora, a melhor parte! Havia salas sustentadas só por colunas com capitéis de flores fechadas. E havia salas com colunas cujos capitéis exibiam flores abertas! E sabem por quê? Nem eu.

Mentira! O guia explicou que, quando a sala tinha teto, os capitéis representavam flores fechadas e, quando não tinham teto, as flores retratadas pelos capitéis das colunas eram abertas, fazendo uma analogia às flores que se abrem para o Sol. Por isso, mesmo quando nos deparávamos com uma sala sem teto, mas cheia de colunas com flores fechadas, já sabíamos que, no passado, aquela sala teve um teto. Ah, se teve!

Um exemplo de capitéis com forma de flores fechadas.

Outro elemento bastante típico da antiga cultura egípcia é o obelisco. Hoje em dia tem obelisco em tudo que é lugar do mundo, mas esses, os do templo, trazem consigo uma História de milênios. Aquele de Paris também traz, diga-se de passagem, cujo local original não era a Cidade Luz, mas sim o Templo de Lúxor. Há quem diga que a extremidade pontuda dos obeliscos remete à luz solar, o que os tornaria símbolos do divino tocando a Terra. Lembre-se que Rá é o deus Sol. Fato é que os obeliscos sinalizam lugares sagrados, já que, no Templo de Karnak, podem ser contemplados vários deles, que se situam a frente de cada pilono, que é uma fachada com um portal que leva a um recinto sagrado.

A simbologia do pilono é solar, pois representa um vale pelo meio do qual surge o sol. Podem ser vistas cenas representadas nessas fachadas e a principal delas mostra o faraó derrotando um inimigo.

Um exemplo de pilono.

Figurinhas fáceis também são as estátuas enormes de faraós e que, normalmente, estão compondo o espaço a frente dos pilonos. Se for reparar, eles estão retratados em posição de marcha e com os pés esquerdos adiante. Acredita-se que, para os antigos egípcios, o lado esquerdo era muito importante devido ao fato de se associar à ideia de que é o lado do coração. Para alcançar o “céu”, depois da morte, devia-se ter um coração leve.

Algo que chama a atenção é o fato de essas e outras estátuas não terem nariz. Vê-se claramente que os narizes foram quebrados. Pensa-se que esse tipo de vandalismo ocorreu mais tarde, por egípcios ou povos invasores, como forma de tirar a honra dos faraós retratados nessas esculturas.

Por último, mas não menos interessante, visitamos o lago sagrado, perto do qual está uma escultura de besouro ou escaravelho gigante. Aliás, “gigante” é ótimo! O que não era gigante ali? Tinha faraó gigante, carneiro gigante, flor gigante… E aí, só quando venho falar do besouro, eu digo que era gigante.

Enfim, o caso é que, esse besouro tem uma lenda que diz que, quem fizer um pedido e der voltas em torno dele, será atendido. Não me lembro quantas voltas eram. Também não me lembro que pedido eu fiz. Só sei que cumpri a tradição dos turistas.

Olha o lago sagrado aí!

O besourão da sorte.

Exemplo de capitéis em forma de flores fechadas à esquerda e em forma de flores abertas à direita. Mas um segredinho: esta foto foi feita no Templo de Lúxor, não de Karnak. Vale pela didática.

Kamehamehá? Claro que não. É um faraó derrotando um inimigo.

E lá se foi o nariz!

Vejam também:

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