O lado machista de uma mesquita

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Allah la ôôô ôôô ôô… Mas que calor ôôô ôôô…

Mais um dia de passeios na cidade do Cairo. A estrela do tour era a gigante Mesquita de Mohammed Ali, muito conhecida também por Mesquita de Alabastro devido às suas extensas paredes revestidas por esse tipo de pedra.

Até aquele momento, não havíamos entrado em nenhum templo islâmico, embora já estivéssemos há quatro dias conhecendo o Egito. O fato é que as primeiras visitas foram no âmbito do Mundo Antigo, em um cruzeiro pelo Nilo. E a única experiência que tinha tido relacionada ao Islã havia sido ouvir os cânticos emitidos pelos minaretes, como são chamadas as torres das mesquitas. Em intervalos de tempo regulares, era possível escutar, de dentro do navio, os chamados aos fiéis para a oração, como é tradicional nessa religião.

Na noite anterior à visita, o guia nos orientou a que fôssemos vestidos com calça comprida e que, de alguma forma, cobríssemos os braços. Se Hórus, Sobek e Amón não se importavam com minhas pernas e meus braços descobertos, Allah parecia não simpatizar nada com a ideia, mesmo num calor infernal. Ou, pelo menos, seus porta-vozes fizeram chegar a mim esta mensagem. Ok, não há problema.

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O pátio da Mesquita e um céu de brigadeiro.

A Mesquita de Alabastro foi idealizada em 1830 e terminou de ser erguida em 1857. Mohammed, o que dá nome ao templo, não era o profeta, mas sim um soldado de origem albanesa e que foi governador do Egito no início do séc. XIX, sendo considerado o fundador do Egito Moderno.

Em 1899, a mesquita apresentava rachaduras que urgiam ser reparadas e de fato foram, mas de forma inadequada. De modo que, no início do séc. XX, foi realizada uma extensa obra de reparação.

Estivemos, o grupo da excursão e eu, na parte chamada Sala de Oração onde, antes de entrar, todos devíamos retirar os sapatos, como é costume em todas as mesquitas. O mais curioso é que pombas entravam no local e acabavam por deteriorar o tapete que revestia o piso, não preciso nem dizer como. Descalçar-se antes de entrar em algum lugar é um hábito árabe e creio que o motivo original era não sujar o interior do recinto. No entanto, acho que atualmente é mais simbólico do que efetivo.

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Adorei essa iluminação!

Muitos templos de diversas religiões usam o recurso de ter um pé direito altíssimo finalizado com uma abóbada. Não sei o motivo, mas realmente esse tipo de interior traz paz. Digo por mim, óbvio. Não perguntei aos demais, mas eu sinto paz em ambientes assim. No caso da Mesquita de Alabastro, a abóbada era decorada com figuras geométricas e muito dourado. Considero o uso da geometria um conceito bastante bonito e interessante para se simbolizar o divino.

Outra coisa que chamava muito a atenção era a iluminação a partir de pequenos lustres de forma quase esférica e transparentes que, dispostos um atrás do outro, pareciam representar o momento de uma dança sobre nossas cabeças.

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Vitrais geométricos.

Sobre o uso da mesquita para orações, o guia nos disse que, durante a celebração, os homens devem ocupar o primeiro setor da sala e as mulheres, o setor logo atrás. Conseguem visualizar? Imaginem que, se a mesquita fosse um auditório, as fileiras deveriam ser preenchidas, desde a primeira, só por homens. Quando não houvesse mais homens, as fileiras seriam ocupadas por mulheres, até a última fileira. Com a diferença de que não há assentos, já que o culto consiste em ajoelhar-se e curvar-se com os braços estendidos.

O resultado é um bloco de pessoas enfileiradas, ajoelhadas e tocando as testas e as mãos no chão. Todas dispostas no mesmo sentido.

O guia disse que muitas pessoas acusam o Islã de ser machista por isso, já que os homens estão no bloco da frente e as mulheres no bloco de trás, numa configuração bastante heterogênea. Ele explicou que não há nada de machista nisso e que havia um motivo para tal. Ocorre que, como as pessoas obrigatoriamente fazem o movimento de levantar a bunda durante a reverência, é melhor que os homens não fiquem atrás das mulheres, já que, se ficassem, teriam pensamentos esquisitos, segundo ele, e perderiam a concentração. Foi aí que um dos colegas de excursão indagou: “E as mulheres? Elas não têm pensamentos esquisitos, estando atrás dos homens?” O guia apenas riu, meio sem graça, esquivando-se de dar uma resposta ou de estender o assunto.

Quando o guia disse que havia um porquê para tal configuração e que, de forma alguma havia machismo ali, fiquei sinceramente esperando uma explicação muito boa e que de fato me convencesse. Mas não, Sr. Guia, não deu.

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Lindo facho de luz natural. E bela geometria.

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Nota-se que adorei essa iluminação.

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Jardins da mesquita.

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